
“Estes olhos estão cansados de nada fitar, a escuridão da sala não revela mais nada, a contemplação da agoniante solidão traz-me apenas os erros.
Quem deixei de ser, quem pensei que fui, corra-te de mim oh amor da minha vida, já não tenho mais vitalidade para sofrer.
O inferno está vazio, todos nós somos santos arrebatados a grande felicidade. Há vilões e heróis multiplicados em um mesmo reflexo, perdão a quem amei e a quem enganei. Traído e traidor. Bem vindos a confissão de um homem que não sabe mais de si.
A juntas estão a falhar como prêmio de consolação, se venci algo, eu não fora avisado. Teus dias estão contados verão, os meus traçados pelo destino que insisto em afastar de mim. Corra, o que sobrará no fim da avenida, se não mais uma outra avenida?
O protagonismo não fora feito para ser dividido, o reino estás preso no corpo da nova estrela, atirem-se a ela caro súditos. Quem será o analista divorciado que irá as linhas de mim traçar?
A insônia repassa-me o presente detestável, traz-me bolsas acinzentadas. Ora, elas serão muito bem-vindas, a neutralidade desta morbidez és capaz de destacar-me como exemplo a não seguir-se. Caro amigo, não sinta demais, ou estarás condenado.
E ninguém quer vestir-se de ridículo, não é? O vento de chuva sopra-me o blues e sem tardar a chuva veio e banhou-me, mas nada escorrera, as impurezas ainda continuaram incrustadas em minha pele.
Ondas de calor passeiam pelo corpo, mas não é tesão, o silêncio insiste em me beijar e eu beijo-lhe de volta com toda a minha volúpia.
A única interação amorosa que tenho, as amantes fugiram deixando-me para trás a inspecionar as juras das conjunturas frases.
Não fora amor, não fora carnal, fora algo tão intenso quanto, talvez uma mistura dos dois, talvez por isso tenha amado tanto o sui generis que fomos.
Algo ímpar que fora esquecido. A paixão metamórfica arrecadou-me em seus braços, mas ainda assim há outros fragilizados para salvar nesta noite.
O pecado e a doçura confessada em uma mesma boca. Os passos foram distribuídos a quem nunca lembrara-se, por pouco o carnaval já passara, au revoir minha névoa desbotada. E os olhos continuam a não fitar mais nada, passando noites e dias, sol, chuva e neblina.
A esperança parece morrer para rejuvenescer-se em mais um novo amanhecer. Poupe-nos com vossas tristezas, temos o nosso chá de impurezas para degustar. Apaixonei-me, amei por mim e como ninguém, em meu peito senti o disparo quente do fuzil e pouco depois a entrada do inverno sem bater na porta. Estás a perguntar-se o que fiz com esse amor? Simples, deixei a bala alojada em meu peito agonizando e pedindo mais…”
— Olhos Tristonhos, Pierrot Ruivo
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